quinta-feira, 3 de maio de 2012

O que fazer com os resíduos orgânicos?

A solução demanda conhecimento e investimentos adequados para o correto reaproveitamento  desses detritos.
 











A separação, coleta e reciclagem de metais, papel, vidro e plástico, entre outros, ganhou novo impulso com a aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, no final de 2010. A partir do conceito de responsabilidade compartilhada, a lei envolve os diversos elos da cadeia da reciclagem na busca de soluções eficientes. Enquanto se estruturam modelos e propostas para o melhor aproveitamento dos mais diversos tipos de materiais, a questão dos resíduos orgânicos também precisa ser observada de perto.

Segundo dados da FAO (órgão da ONU que cuida de assuntos relacionados à alimentação e agricultura), 1,3 bilhão de toneladas de comida vão parar no lixo todos os anos – isso representa quase um terço do total produzido. No Brasil, estima-se que a perda chegue a cerca de 25 milhões de toneladas por ano.

"O Brasil produz em torno de 260 mil toneladas de lixo por dia – 1,5 quilo por habitante, o triplo da China. Embora 80% desses resíduos possam ser reaproveitados, o que também inclui o lixo orgânico, uma parcela ainda muito reduzida é reciclada ou destinada para a compostagem", conta Eraldo Patto Pinho, consultor de Sustentabilidade da Topema, empresa que conta com uma área especializada em gestão de resíduos, energia, efluentes e água.

Os chamados resíduos orgânicos - produzidos nas residências, escolas, restaurantes, empresas e pela própria natureza - têm origem vegetal ou animal. Alguns exemplos são restos de alimentos (carnes, vegetais, frutos, cascas de ovos), madeira, ossos e sementes. "Felizmente, existem soluções para dispor o lixo de maneira mais adequada, porém essas soluções dependem do engajamento da população e de políticas públicas que garantam o correto destino e tratamento do lixo", destaca Eraldo.
Despesa que vira receita
Quando seguem para aterros ou lixões (que, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, devem ser totalmente extintos no país até o final de 2014), os resíduos orgânicos se biodegradam e geram chorume e gás metano (com 21 vezes mais poder de gás de efeito estufa do que o gás carbônico). Segundo dados do Cempre, em 2010, cerca de 4% do lixo sólido orgânico urbano gerado no Brasil foi reciclado. Em termos absolutos, 211 municípios brasileiros têm unidades de compostagem, sendo que os estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul possuem a maior concentração, 78 e 66 unidades, respectivamente.

A compostagem é o processo de decomposição biológica da matéria orgânica presente no lixo, por meio da ação de micro-organismos existentes nos resíduos, em condições adequadas de aeração, umidade e temperatura. Desse processo, resulta um adubo de alta qualidade - uma tonelada de lixo doméstico rende cerca de 500 quilos de composto orgânico.

Entre os fatores que travam o avanço da reciclagem dos resíduos orgânicos, estão as dificuldades logísticas para retirada dos detritos, os custos com transporte e os investimentos em câmara fria (uma vez que não podem ficar expostos ao calor), desinfecção e mão de obra. A novidade é que existem no mercado processadores para resíduos que são colocados nas próprias instalações de condomínios, restaurantes, hospitais, lanchonetes e supermercados.

Sem usar água ou enzimas, esses equipamentos, com capacidades que variam de 30 a 1.500 quilos, geram uma biomassa que pode servir como base para ração animal, adubo e para queima como biogás. Além da biomassa, o processo resulta em água cristalina e estéril que pode ser usada para limpeza ou jardinagem. "Ou seja, o que antes era um problema e uma despesa torna-se fonte de receita. Se reciclássemos 20% de todo o resíduo orgânico produzido no país, haveria 613 mil toneladas a menos nos aterros e seriam geradas aproximadamente 1 milhão de toneladas de adubo, o que representaria uma receita de R$ 1,5 bilhão por ano", contabiliza Eraldo.


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